quarta-feira, 31 de março de 2010

BREVE ENCONTRO(1945) realização de David Lean

“Breve Encontro” é conhecido por ser um dos filmes de menor orçamento de David Lean, e, surpreendentemente, uma das suas mais belas e memoráveis obras-primas. Um filme que encanta pela sua magnífica simplicidade – é bastante semelhante a outra obra de Lean, “Mais Forte que o Amor”, de 1949, apesar de bastante superior – e, apesar de se diferenciar notoriamente dos grandes e visualmente deslumbrantes épicos que o realizador lançou às telas a partir de finais da década de 50, o impacto emocional de “Breve Encontro” acaba facilmente por superar a maravilha parte técnica característica dos seus últimos filmes – vide a Trilogia da Guerra, constituída por A Ponte do Rio Kwai, Lawrence da Arábia, Doutor Jivago. “Breve Encontro” ganha mais força sobretudo pela maravilhosa interpretação e carisma do par principal, a atmosfera romântica e intimidadora que se acerca do casal a partir do momento que se encontram casualmente pela primeira vez, e, sobretudo, o seu magistral e emocionalmente arrebatador final, que encerra deste modo um dos maiores romances proibidos da História do Cinema. O ambiente lúgubre e sombrio onde tem acção grande parte do filme – a estação de comboios – só realça o clima da obra, e fazem-nos perceber as razões pelo qual David Lean era considerdo um mestre. Apesar de alguns fracassos na sua carreira, como por exemplo “Culpada ou Inocente” ou “Uma Mulher de Outro Mundo”, - confesso que também não sou grande fã de A Filha de Ryan - é inegável a sua monumental importância no cinema. É verdade que muitos dos seus filmes têm tudo para despertar o ódio em alguns espectadores, sobretudo “Doutor Jivago”, devido ao seu sentimentalismo exagerado, reforçado pelo tema de Lara e os longos planos das paisagens geladas – esta última, pela qual David Lean era mais criticado -. Sobretudo Pauline Kael, que chegou mesmo a afirmar que Lean só tinha talento para filmar os comboios dos seus filmes, um comentário um tanto infeliz, mas partilhado por muitos. Outra curiosidade acerca dos filmes de Lean era o facto de todos os seus romances tratarem de histórias de amor proibido, acabando mesmo “Breve Encontro” por ser banido em alguns países na época do lançamento. Não somente por causa do seu tema, mas sim a maneira leviana como este foi tratado, a visão optimista do realizador perante o desenvolvimento da relação entre Laura e Alec. David Lean criou, deste modo, uma das grandes obras-primas do cinema romântico de todos os tempos, com cenas inesquecíveis, uma história maravilhosa conduzida da maneira mais natural e genial possível, e que não passará indiferente a todos aqueles que possuam o mínimo de sensibilidade. Por Tiago Silva.

terça-feira, 30 de março de 2010

O LEOPARDO(1963) realização de Luchino Visconti

É curioso. O italiano Luchino Visconti iniciou a sua carreira com filmes neorealistas, mais precisamente, que retratavam a vida árdua e complicada do povo, e terminou com grande glamour e magistralidade, narrando a vida nobre, filmes esses imortalizados pelos seus impressionantes visuais, a perfeição estética das suas obras e pela magnífica decoração dos cenários – falo sobretudo da saga épica imortal “O Leopardo” ou da irrepreensível obra prima “Morte em Veneza”. Mas os filmes de Visconti não se restringiam a ser somente um espectáculo para os olhos. Neles Visconti construía uma crítica social, atirava de uma maneira genial para as telas os podres do ser humano, a decadência – vide a inesquecível cena do baile em “O Leopardo”, onde ele faz uma alusão à improficuidade do ser humano, à sua decadência incessante e imparável; “Vocês, jovens, não podem compreender. Para vocês a morte não existe” Ao mesmo tempo, Visconti parecia criar um espelho de si mesmo com a personagem de Burt Lancaster, que sofre constantemente com a passagem inexorável do tempo, deixando aflorar deste modo a decadência que parece apoderar-se cada vez mais desta soturna e imortal personagem. Apesar de ser em “Morte em Veneza” que Visconti mais deixa transparecer a decadência do ser humano, em “O Leopardo" esse sentimento também não passa despercebido. Desde a primeira cena, lúgubre, e realizada com o típico ritmo vagaroso, contudo, genial, de Visconti, em que a família Salina reza fielmente, até ao eterno monólogo final de Fabrizio, um dos mais belíssimos e inesquecíveis da história do cinema. No fim, “O Leopardo” acaba também por ser a fiel e completa saga de um conturbado período da História italiana, com uma magistral e envolvente narrativa. Aliada à perfeição estética característica das obras de Visconti, e à imortal música de Nino Rota, “O Leopardo” destaca-se como um dos grandes exemplares do cinema italiano, uma peça de valor incalculável de um dos maiores génios da Sétima Arte. Por Tiago Silva