terça-feira, 30 de março de 2010

O LEOPARDO(1963) realização de Luchino Visconti

É curioso. O italiano Luchino Visconti iniciou a sua carreira com filmes neorealistas, mais precisamente, que retratavam a vida árdua e complicada do povo, e terminou com grande glamour e magistralidade, narrando a vida nobre, filmes esses imortalizados pelos seus impressionantes visuais, a perfeição estética das suas obras e pela magnífica decoração dos cenários – falo sobretudo da saga épica imortal “O Leopardo” ou da irrepreensível obra prima “Morte em Veneza”. Mas os filmes de Visconti não se restringiam a ser somente um espectáculo para os olhos. Neles Visconti construía uma crítica social, atirava de uma maneira genial para as telas os podres do ser humano, a decadência – vide a inesquecível cena do baile em “O Leopardo”, onde ele faz uma alusão à improficuidade do ser humano, à sua decadência incessante e imparável; “Vocês, jovens, não podem compreender. Para vocês a morte não existe” Ao mesmo tempo, Visconti parecia criar um espelho de si mesmo com a personagem de Burt Lancaster, que sofre constantemente com a passagem inexorável do tempo, deixando aflorar deste modo a decadência que parece apoderar-se cada vez mais desta soturna e imortal personagem. Apesar de ser em “Morte em Veneza” que Visconti mais deixa transparecer a decadência do ser humano, em “O Leopardo" esse sentimento também não passa despercebido. Desde a primeira cena, lúgubre, e realizada com o típico ritmo vagaroso, contudo, genial, de Visconti, em que a família Salina reza fielmente, até ao eterno monólogo final de Fabrizio, um dos mais belíssimos e inesquecíveis da história do cinema. No fim, “O Leopardo” acaba também por ser a fiel e completa saga de um conturbado período da História italiana, com uma magistral e envolvente narrativa. Aliada à perfeição estética característica das obras de Visconti, e à imortal música de Nino Rota, “O Leopardo” destaca-se como um dos grandes exemplares do cinema italiano, uma peça de valor incalculável de um dos maiores génios da Sétima Arte. Por Tiago Silva

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